terça-feira, 22 de junho de 2010

Crítica: Ajuste Final (Miller`s Crossing, 1990)

Por: Dimitri Yuri

É a vez dos irmãos Coen fazerem o seu filme de gângster. Provando mais uma vez a sua versatilidade entre um projeto e outro, eles fizeram um filme que do ponto de vista técnico é quase perfeito, e além de ser um dos melhores - ou o melhor - filme dos irmãos, é certamente um dos melhores exemplares do gênero até hoje.

O filme começa com uma referência clara à primeira cena de "O Poderoso Chefão". Johnny Caspar (Jon Polito), um mafioso, está pedindo um favor à Leo (Finney), o atual "chefão" da cidade. O pedido consiste em ele matar um homem chamado Bernie (John Torturro), que tem enganado Johnny dizendo que uma suposta luta está "vendida", e na verdade não está coisa nenhuma. Mas a verdade é que Bernie é um tremendo vigarista, e quase todo mundo o quer morto (até o próprio Bernie sabe que não presta).

Leo se recusa a fazer o trabalho pois Bernie é o irmão de sua namorada, que mesmo concordando que ele não vale nada, ainda tem um certo carinho pelo irmão (mas é claro que Leo não diz o motivo da recusa para Johnny). Tom Reagan (Gabrile Byrne) é o braço direito de Leo, e não aprova a decisão de poupar a vida de Bernie, pois Johnny Caspar já tem poder suficiente para bater de frente com Leo e isso causaria uma quase guerra na cidade. O único problema é que Tom também tem um segredo, ele é amante de Verna, namorada de Leo e irmã de Bernie.


Os irmão sabem o que realmente funciona em um filme, e mesmo que você pegue referências de obras anteriores, se essas referências forem realmente boas, elas só irão acrescentar no seu filme. Então eles juntaram todo esse conhecimento de cinema que eles tem, para se adaptar ao quase novo gênero (pois convenhamos,"Gosto de Sangue" é quase um filme de gângster), assim como Kubrick fez em "O Iluminado" e Scorsese fez em "A Ilha do Medo". Eles também já apresentam um talento muito grande para recriar um periodo histórico (podemos notar isso em "E aí, Meu Irmão, Cadê Você?" e em "Onde os Fracos Não Tem Vez"), desde o figurino até a fotografia maravilhosa por Barry Sonnenfeld (que já tinha trabalhado com os irmãos em seus dois primeiros filmes, e foi o diretor dos dois "Homens de Preto"), que você pode notar desde a primeira cena que possúi imagens maravilhosas (a do chapéu voando por exemplo).

O talento dos irmãos também se encontra no roteiro. Muito bem planejado e com uma complexidade de personagens dignas de um "O Poderoso Chefão". Apresenta cenas incrívelmente tensas (realçadas pela direção é claro), e até alguns bons alívios cômicos. Aquele clima conspiratório (você nunca sabe em quem confiar, ou o que uma pessoa fará ) é muito bem empregado, e destaca a imprevisibilidade dos excêntricos mafiosos daquele periodo (me lembrou até os personagens de Joe Pesci em "Os Bons Companheiros" e "Cassino"). Os dialogos ajudam a definir os personagens, e cada um deles fala de forma diferente do outro dependendo da região em que foi criado, até do nível de educação (algo que eu sempre admiro em um filme).

É dificil achar um elenco tão bem formado quanto esse, não só pelo talento de seus atores, mas pela meticulosa escolha de quem interpreta quem (muito comum em qualquer trabalho dos irmãos). Gabriel Byrne faz um sujeito estremamente frio e durão (o que justifica sua posição de braço direito de um grande mafioso), mas é também um dos personagens mais inteligentes do filme. Albert Finney é um veterano e tem uma exata noção do que faz, sabe quando ser calmo, e quando se irritar, e emprega um ar contido (que é muito bem colocado, considerando que ele lida com situações assim à anos). Contrastando com ele está Jon Polito, que pelo fato de ter adquirido um grande poder a relativamente pouco tempo, não segura as suas indignações, sempre histérico e hilário. Muitos falam que esse é o melhor papel de John Turturro. Embora realmente sendo uma boa atuação, ele exagera algumas vezes. Mas no geral ele está muito bem.

Detalhe, há uma cena em que um grupo de policiais metralham um armazém, e tem um sujeito que de certa forma lidera o resto, não poupando munição... Esse sujeito é Sam Raimi, o diretor das trilogias "Homem-Aranha" e "Uma Noite Alucinante".

Veredicto: Um filme tão brilhante, que em uma lista, ele ficaria junto de grandes nomes do gênero, como "Os Bons Companheiros" e "O Poderoso Chefão". E isso não é bom o suficiente?

Nota:5/5

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