terça-feira, 6 de julho de 2010

Crítica: O Poderoso Chefão: Parte III (The Godfather: Part III, 1990)

Por: Dimitri Yuri

Inexplicavelmente um dos filmes mais subestimados de todos os tempos. Está certo que é difícil igualar os primeiros capítulos da trilogia, mas não se pode dar menos de 5 estrelas para um filme como esse. Ele tem um roteiro, direção e atuações exceletes, nos traz um final satisfatório para uma história tão famosa e aclamada. Com esse filme nós podemos dizer que a trilogia "O Poderoso Chefão" é a melhor da história do cinema (e ainda a pessoas que a compara com "O Senhor dos Anéis". Pelo amor de Deus!).

Passaram-se alguns anos e nós vemos Michael Corleone (Al Pacino) já velho, fazendo caridades e tentando ao máximo limpar o seu nome, tirando qualquer relação possível com a máfia. Agora nós percebemos um protagonista amargurado e atormentado por todos os seus pecados passados (principalmente a morte de Fredo). Nós vemos um Michael Corleone buscando redenção logo na primeira cena do filme, em que ele está tentando se re-aproximar de seus filhos (Sofia Copolla e Franc D'Ambrosio) e de Kay (Diane Keaton) entre outras coisas. Nós também somos apresentados à um novo e importante personagem, ele se chama Vincent Mancini (Andy Garcia), e tem uma personalidade muita parecida com a de seu pai, Sonny Corleone do primeiro filme (irmão de Michael). Michael vê em Vincent aquela mesma paixão pela família que tinha o seu irmão, e se identifica com ele.

Michael planeja um grande investimento em uma empresa italiana chamada Immobiliare, e pra isso ele precisa inclusive da aprovação do Vaticano (que controla parte da empresa). Quando os outros Dons de Nova York descobrem sobre esse investimento, eles pedem à Michael para terem uma parte nisso tudo. É aí que ele marca uma reunião com todos os chefes para explica-los que ele quer legitimar os negócios de sua família e etc. Nessa reunião acontece um atentado aos Dons e a maioria deles morre. Michael começa a suspeitar de algumas pessoas, mas o verdadeiro inimigo ainda não apareceu. A situação de Michael é bem definida por uma de suas falas: "Logo quando eu penso que saí, eles me puxam de novo". Paralelo à isso, Michael introduz Vincent à família e o ensina coisas que ele próprio aprendeu ao longo de sua vida como Don.


Assim como nos dois filmes anteriores, os conflitos interiores de seus personagens, são tão bons quanto os exteriores (traições, planos, assassinatos e etc.). Ele apresenta elementos parecidos com os dos últimos capítulos da trilogia (um atentado onde não se sabe ao certo o culpado e etc) mas os usa tão bem, que nós não temos aquele Deja-Vu que nos deixa entediados. O arco de amadurecimento de Vincent é muito bem feito e realista. Realçado pela atuação inteligente de Andy Garcia, nós conseguimos ver a diferença entre o Vincent do início do filme (agressivo e cabeça quente) e o do final (frio e calculista, mas sem perder algumas das característicase seu pai). Do outro lado nós temos Michael fechando o seu desenvolvimento (que aconteceu ao longo dos três filmes), arrependido de seus atos, e buscando ser "bom" de novo (assim como era no início do primeiro filme).

Outra novidade na história é a personagem de Connie, que agora que envelheceu e aprendeu os valores tradicionais da família. E se nos outros filmes ela era um perua fútil, nesse ela é quase um funcionário da família, tomando iniciativas e dando ordens. Ela virou uma espécie de braço direito de Michael. Tudo isso é feito com excelência, mas sem duvida o grande triunfo do roteiro é o fato dele respeitar as antigas tradições, não só da Cecília, mas da própria igreja católica. Ele entende que existe uma filosofia muito mais profunda por traz disso tudo, e não a trata como uma coisa simples (algo quase impossível de achar hoje em dia, em que nós temos roteiristas que no auge de sua ignorância, acham que sabem o suficiente sobre um filosofia milenar para fazer críticas em seu filme).

Francis Ford Copolla continua excelente, mas ele se apresenta muito mais solto para realizar suas vontades (ele e Gordon Willis adquiriram muita confiança após os dois primeiros filmes), isso gera alguns pequenos errinhos. Os tiroteios estão mais parecidos com os de filmes de ação (principalmente o do encontro de Dons) o que tira um pouco daquela violência realistica que era tão importante nos dois primeiros filmes, isso aconteceu porque, afinal, esse filme foi filmado 16 anos depois do último, e muita coisa mudou. Mas no geral o filme continua oldschool. O modo em que o terceiro ato foi filmado faz uma referência clara ao final do primeiro filme, criando um excelente clímax e terminando com um momento bem dramático. Fica melhor ainda pois é tudo ao som da "Cavalleria Rusticana". Carmine Coppolla (pai de Francis) não se contenta com o que já tinha sido feito anteriormente, e cria mais uma trilha sonora magnífica, que apesar de não brilhar como as outras duas (afinal, é difícil a competição), é melhor do que quase todas as trilhas atuais. Realmente faz juz à Nino Rota.

Al Pacino realmente me surpreendeu nesse aqui. Ele continua dando os seus gritos raivosos, mas ele nos faz sentir pena do personagem de Michael (o que é muito difícil, porquê nós sabemos todas as coisas que ele fez anteriormente). Nós acabamos entendendo o que o levou a tomar muitas daquelas decisões (assim como Kay também entendeu). Ele só peca por não convecer como um velho doente, algo que Marlon Brando fez excepcionalmente bem no primeiro filme. Sofia Copolla não é tão ruim atuando como as pessoas dizem. Ela até pode exagerar um pouco na voz meio mole, mas no geral, ela me convenceu como uma jovem curiosa e apaixonada. É uma pena que agora nós não vemos Robert Duvall como Tom Hagen (ele pediu dinheiro demais e o estúdio não aceitou), mas em compensação, Talia Shire brilha bastante interpretando Connie (que, assim como dito anteriormente, tem mais espaço no terceiro filme). Andy Garcia é carismatico e mostra bem a evolução de seu personagem, o problema é que ele não passa nem metade da competência que Al Pacino e Marlon Brando passaram nos dois primeiros filmes.

Veredicto: Pode não alcançar o status de perfeição como seu antecessores, mas "O Poderoso Chefão: Parte III" não é só um magnífico filme, é o fim da melhor trilogia já feita.

Nota: 5/5

domingo, 4 de julho de 2010

Crítica: O Poderoso Chefão: Parte II (The Godfather: Part II, 1974)

Por: Dimitri Yuri

Aclamada por muitos que dizem que é a melhor continuação da história do cinema. "O Poderoso Chefão: Parte II", acerta em quase tudo em que aposta. É a nossa chance de ver mais um pouquinho dessa interessante história, em um filme que quase iguala o seu antecessor. A direção, atuações, fotografia, roteiro e trilha sonora continuam excelentes, mostrando cada vez mais a sabedoria e habilidade de Francis Ford Coppolla quando o assunto é fazer um bom filme.

O filme intercala entre duas histórias. A primeira é a verdadeira continuação do primeiro filme. Nós vemos Michael (Al Pacino) como o Don, realizando as mesmas tarefas que seu pai era encarregado. É aí que ele sofre um atentado contra a sua vida dentro de casa. Isso o faz re-pensar em seus amigos, pois alguém o traiu e ele precisa saber quem foi antes que tenha outro atentado. Michael, como toda a sua inteligência, começa um jogo de cintura com os possíveis suspeitos para ganhar a confiança deles e assim descobrir quem foi o mandante do ataque. Kay (Diane Keaton) também está dando problemas para Michael, pois ela não aguenta mais viver daquele jeito, e quando precisa dele, ele nunca está presente (ela ameaça fugir de casa). Tudo complica quando Michael começa a suspeitar que alguém de dentro da família está colaborando com os seus inimigos.

A segunda história conta a ascenção de Vito Corleone (Robert DeNiro). Nós o vemos desde pequeno na Cecília, quando sua família inteira foi morta por um Don local, e ele tem que fugir para os Estados Unidos da América. Depois nós o vemos um pouco mais velho, já casado e com um filho (Sonny). Ele começa a realizar pequenos furtos com os seus amigos, até que Don Fanucci (Gastone Moschin), que recebe uma parte de quase todos os negócios do bairro, começa a extorquir Vito e seus parceiros. Não contente com isso, ele consegue assassinar Don Fanucci, e assim as pessoas começam a trata-lo como o novo Don da região. Realizando e pedindo favores às pessoas do bairro, ele consegue dinheiro para montar uma empresa que importa azeite de oliva da Cecília, e assim começa a família Corleone.


O roteiro fica de novo por conta de Coppolla e Puzo. Desta vez dividido em duas histórias diferentes, mas que são extremamente bem trabalhadas, com conflitos interessantes e atos perfeitamente desenvolvidos (tão bom que poderiam ser divididas em dois filmes), apesar do filme se concentrar mais na história de Michael, todas as vezes em que voltamos para Vito são especiais e bem feitas. Eles fazem um excelente uso dessas duas histórias, pois mesmo o filme tendo 3:20 de duração, você não fica cansado (não estou dizendo que passa rápido, mas ele simplesmente não te deixa sair da tela).

Na tragetória dos três filmes, o personagem de Michael faz um arco de um homem bom e consciente do que é certo e errado, que passa para um personagem que faz tudo pelo bem da família (mesmo que isso signifique fazer mal aos outros), até que no final ele se arrepende de seus atos, e tenta viver como um homem decente novamente. No segundo filme da trilogia é onde nosso protagonista se encontra no seu estado mais baixo de moralidade e decência. Por outro lado a história de vida de Vito Corleone é realmente impressionante. Se não fosse pelo fato dele ter se tornado um mafioso, nós o poderiamos chamar de "grande homem" (algo que Marlon já mostrou no primeiro filme, com sua aparência de "bom velhinho", que intercalava com o Vito frio que tinha uma importante família para cuidar). Mesmo antes de entrar para a máfia, ele já tinha esse conhecimento de valores da família e retribuição de favores (que veio da sua criação ceciliana).

Tecnicamente o filme continua perfeito. Eles não só recriam muito bem os anos 40-60, como já tinham feito no outro filme, mas também a Nova York ainda mais antiga (1900-1920), e algumas breves partes na Itália (você percebe claramente a diferença entre os lugares, até pela abertura da câmera, que ele usam para dar o tom desértico da Cecília). Coppolla e Gordon Willis continuam se superando e filmando de um jeito clássico que dá um toque de realismo impressionante para o filme (repare em como a violência é bem usada ao longo da trilogia). Eles continuam introduzindo a situação em que seus personagens se encontram logo nas primeiras cenas em que são mostrados (poupando longos diálogos desnecessários, ainda mais em um filme de 3:20 de duração), seja por meio de direção afiada de Coppola ou pelo roteiro bem trabalhado. A trilha de Nino Rota também continua maravilhosa, desta vez dá um certo glamour para refletir a situação financeira dos Corleone. Mas quando o filme muda pra núcleo da Nova York mais antiga e que Vito Corleone tinha dificuldades no orçamento, todo o clima e trilha mudam. E só de ouvir o tema do filme nos primeiros minutos já é de dar arrepios.

Michael realmente mostra a sua frieza em alguns momentos. como a primeira conversa com o senador, por exemplo, que xinga a família dele, e Michael se segura para não fazer nada. Mas Al Pacino está um pouco mais solto neste do que no primeiro filme, o que é um mal sinal. E mesmo com ele ainda mostrando e calma e inteligência de Michael presentes no filme anterior, agora ele tem crises de raiva de vez em quando, com Pacino gritando como sempre (não está ruim, só que é um queda no nivel de atuação, comparado com ele mesmo no primeiro filme e, principalmente, com Marlon Brando). O personagem está passando por mudanças, mas o jeito e personalidade dele não deveria mudar.

Robert De Niro é realmente sensacional. Ele faz juz a clássica interpretação de Vito Corleone por Marlon Brando, e tenta descobrir como seria aquele homem mais jovem, acertando em cheio. Você consegue ver traços de Marlon em sua atuação, e se apresenta calmo e calculista, assim com é mostrado no primeiro filme. Ele faz a voz roca assim como usada por Marlon anteriormente, mas não força muito pois, afinal, ele está bem mais jovem e com saúde. Rubert Duvall está melhor ainda aqui (até porque ele tem mais falas e importância no geral). Mostrando, muito habilmente, sua competência e o amor que ele sente pela família Corleone. E você nunca duvida da lealdade dele (algo dificil, considerando que a maioria dos personagens traem um ao outro ao longo da série).

Veredicto: Provavelmente a melhor continuação da história do cinema. Apesar de não ser tão bom quanto o primeiro (afinal, é o melhor filme já feito), a segunda parte da trilogia "O Poderoso Chefão" é um filme excepcional em quase todos os sentidos.

Nota: 5/5