domingo, 4 de julho de 2010

Crítica: O Poderoso Chefão: Parte II (The Godfather: Part II, 1974)

Por: Dimitri Yuri

Aclamada por muitos que dizem que é a melhor continuação da história do cinema. "O Poderoso Chefão: Parte II", acerta em quase tudo em que aposta. É a nossa chance de ver mais um pouquinho dessa interessante história, em um filme que quase iguala o seu antecessor. A direção, atuações, fotografia, roteiro e trilha sonora continuam excelentes, mostrando cada vez mais a sabedoria e habilidade de Francis Ford Coppolla quando o assunto é fazer um bom filme.

O filme intercala entre duas histórias. A primeira é a verdadeira continuação do primeiro filme. Nós vemos Michael (Al Pacino) como o Don, realizando as mesmas tarefas que seu pai era encarregado. É aí que ele sofre um atentado contra a sua vida dentro de casa. Isso o faz re-pensar em seus amigos, pois alguém o traiu e ele precisa saber quem foi antes que tenha outro atentado. Michael, como toda a sua inteligência, começa um jogo de cintura com os possíveis suspeitos para ganhar a confiança deles e assim descobrir quem foi o mandante do ataque. Kay (Diane Keaton) também está dando problemas para Michael, pois ela não aguenta mais viver daquele jeito, e quando precisa dele, ele nunca está presente (ela ameaça fugir de casa). Tudo complica quando Michael começa a suspeitar que alguém de dentro da família está colaborando com os seus inimigos.

A segunda história conta a ascenção de Vito Corleone (Robert DeNiro). Nós o vemos desde pequeno na Cecília, quando sua família inteira foi morta por um Don local, e ele tem que fugir para os Estados Unidos da América. Depois nós o vemos um pouco mais velho, já casado e com um filho (Sonny). Ele começa a realizar pequenos furtos com os seus amigos, até que Don Fanucci (Gastone Moschin), que recebe uma parte de quase todos os negócios do bairro, começa a extorquir Vito e seus parceiros. Não contente com isso, ele consegue assassinar Don Fanucci, e assim as pessoas começam a trata-lo como o novo Don da região. Realizando e pedindo favores às pessoas do bairro, ele consegue dinheiro para montar uma empresa que importa azeite de oliva da Cecília, e assim começa a família Corleone.


O roteiro fica de novo por conta de Coppolla e Puzo. Desta vez dividido em duas histórias diferentes, mas que são extremamente bem trabalhadas, com conflitos interessantes e atos perfeitamente desenvolvidos (tão bom que poderiam ser divididas em dois filmes), apesar do filme se concentrar mais na história de Michael, todas as vezes em que voltamos para Vito são especiais e bem feitas. Eles fazem um excelente uso dessas duas histórias, pois mesmo o filme tendo 3:20 de duração, você não fica cansado (não estou dizendo que passa rápido, mas ele simplesmente não te deixa sair da tela).

Na tragetória dos três filmes, o personagem de Michael faz um arco de um homem bom e consciente do que é certo e errado, que passa para um personagem que faz tudo pelo bem da família (mesmo que isso signifique fazer mal aos outros), até que no final ele se arrepende de seus atos, e tenta viver como um homem decente novamente. No segundo filme da trilogia é onde nosso protagonista se encontra no seu estado mais baixo de moralidade e decência. Por outro lado a história de vida de Vito Corleone é realmente impressionante. Se não fosse pelo fato dele ter se tornado um mafioso, nós o poderiamos chamar de "grande homem" (algo que Marlon já mostrou no primeiro filme, com sua aparência de "bom velhinho", que intercalava com o Vito frio que tinha uma importante família para cuidar). Mesmo antes de entrar para a máfia, ele já tinha esse conhecimento de valores da família e retribuição de favores (que veio da sua criação ceciliana).

Tecnicamente o filme continua perfeito. Eles não só recriam muito bem os anos 40-60, como já tinham feito no outro filme, mas também a Nova York ainda mais antiga (1900-1920), e algumas breves partes na Itália (você percebe claramente a diferença entre os lugares, até pela abertura da câmera, que ele usam para dar o tom desértico da Cecília). Coppolla e Gordon Willis continuam se superando e filmando de um jeito clássico que dá um toque de realismo impressionante para o filme (repare em como a violência é bem usada ao longo da trilogia). Eles continuam introduzindo a situação em que seus personagens se encontram logo nas primeiras cenas em que são mostrados (poupando longos diálogos desnecessários, ainda mais em um filme de 3:20 de duração), seja por meio de direção afiada de Coppola ou pelo roteiro bem trabalhado. A trilha de Nino Rota também continua maravilhosa, desta vez dá um certo glamour para refletir a situação financeira dos Corleone. Mas quando o filme muda pra núcleo da Nova York mais antiga e que Vito Corleone tinha dificuldades no orçamento, todo o clima e trilha mudam. E só de ouvir o tema do filme nos primeiros minutos já é de dar arrepios.

Michael realmente mostra a sua frieza em alguns momentos. como a primeira conversa com o senador, por exemplo, que xinga a família dele, e Michael se segura para não fazer nada. Mas Al Pacino está um pouco mais solto neste do que no primeiro filme, o que é um mal sinal. E mesmo com ele ainda mostrando e calma e inteligência de Michael presentes no filme anterior, agora ele tem crises de raiva de vez em quando, com Pacino gritando como sempre (não está ruim, só que é um queda no nivel de atuação, comparado com ele mesmo no primeiro filme e, principalmente, com Marlon Brando). O personagem está passando por mudanças, mas o jeito e personalidade dele não deveria mudar.

Robert De Niro é realmente sensacional. Ele faz juz a clássica interpretação de Vito Corleone por Marlon Brando, e tenta descobrir como seria aquele homem mais jovem, acertando em cheio. Você consegue ver traços de Marlon em sua atuação, e se apresenta calmo e calculista, assim com é mostrado no primeiro filme. Ele faz a voz roca assim como usada por Marlon anteriormente, mas não força muito pois, afinal, ele está bem mais jovem e com saúde. Rubert Duvall está melhor ainda aqui (até porque ele tem mais falas e importância no geral). Mostrando, muito habilmente, sua competência e o amor que ele sente pela família Corleone. E você nunca duvida da lealdade dele (algo dificil, considerando que a maioria dos personagens traem um ao outro ao longo da série).

Veredicto: Provavelmente a melhor continuação da história do cinema. Apesar de não ser tão bom quanto o primeiro (afinal, é o melhor filme já feito), a segunda parte da trilogia "O Poderoso Chefão" é um filme excepcional em quase todos os sentidos.

Nota: 5/5

Um comentário:

  1. Não concordo com as críticas sobre o Al Pacino. Ele é um dos atores mais brilhantes que eu conheço, sabe se conter e se exaltar de acordo com a necessidade do personagem.

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