quarta-feira, 16 de junho de 2010

Crítica: Crash - No Limite (Crash, 2004)

Por:Dimitri Yuri

De vez em quando surgem esses mistériosos sucessos de Hollywood. Tá certo que o filme dá aquela mensagenzinha de paz e amor que os críticos e a academia adoram ouvir, e tá certo que esse foi um ano caótico para o cinema. Mas ganhar o Oscar foi uma coisa que eu não entendi. Com "Todo Mundo Quase Morto", "Kill Bill Vol.2" e "Spider-Man 2" sendo lançados no mesmo ano (Até que eles não são lá essas coisas, mas com certeza melhores que esse lixo que é o filme de Paul Haggis).

O filme conta diferentes histórias sobre pessoas e como elas vivem com o racismo da sociedade. Essas pessoas são os estereótipos mais batidos que existem, tem a perua rica (Bullock) que é mulher do político que só quer saber de ganhar voto (Fraser). Tem o policial racista que não importa o que aconteça ele tem que xingar um negro ou um mexicano. Tem o latino bonzinho que está no filme só pra tentar nos comover e cair nessa conversa besta do roteiro. E mais um monte de gente. Mas o mais importante é que nesse mundo que Haggis concebeu todos (sem exceção) são um pouco racistas.

Vamos começar pelo pior, o roteiro. Primeiro, note o uso excessivo de ofensas raciais que acontecem no filme, as pessoas na vida real não falam assim. Eles entupiram os dialogos de palavras como "Nigger""(Equivalente à "Preto") e "Cracker"("Branquelo" ou coisa do tipo)para parecer que o filme é ousado e não tem medo de discutir sobre o assunto. Ora, se você que falar sobre um assunto tão complicado (Não estou dizendo polêmico), ao menos coloque a sua história com sentimentos reais e, no mínimo, em um mundo plausível.

O filme se propõe a discutir o racismo de forma inteligente, mas pra isso, ele tenta achar uma responta para o preconceito em geral, como se a desconfiança que uma pessoa sente por um negro ou por um branco, é a mesma que ela pode sentir por um judeu por exemplo. Não se pode generalizar uma coisa dessas. Uma pessoa tem preconceito da outra por motivos diferentes, não é a toa que existe preconceito racial, preconceito religioso e etc, é porque eles não são a mesma coisa!

O pior de tudo é que para isso ele coloca personagens artificiais em um mundo falso, sofrendo em situações implausíveis para tentar achar um mínimo de verdade em seu argumento. Mas as pessoas se deixam levar tanto por aquelas histórinhas mediocres que se você não prestar atenção no que está acontecendo, acabará comprando o que eles estão vendendo. Preste atenção nas contradições (Que são muitas)!

Pra citar uma, eu pego o exemplo da cena em que Cameron(Howard) discute com sua mulher Christine (Newton) sobre o que acabou de acontecer (a humilhação que eles sofreram do policial). Nessa sequencia Cameron diz que ela precisava ser presa para saber o que é realmente ser negro. Aí ela retruca, "E você por um acaso sabe o que é ser negro?"(Fala isso pois ele é um rico diretor de televisão). Então agora o problema não é ser negro ou não, é ter dinheiro. Não é mais preconceito racial e sim de classe. Mas pera aí, isso vai totalmente contra a idéia do filme.

Outra coisa que eu não entendo é que alguns críticos dizem que as contradições entre os personagens existem porque eles são humanos, e nós somos confusos. Mas eles esqueceram que uma das regras básicas de roteiro que diz que as ações dos personagens precisam ter razões que às justificam. Precisa de, ao menos, uma pista na história que indique o motivo da reviravolta do sujeito. Um exemplo é a cena em que Cameron se revolta contra o policial (Por quê?).

Na carona disso o filme aproveita e solta mais bombas. Como a idéia de que os americanos são um povinho preconceituoso, algo que deve ter agradado muito os críticos brasileiros (Que odeiam os americanos). Essa historinha cola muito facil no Brasil, mas eu moro aqui nos Estados Unidos e posso dizer, isso é mentira! Eu não fui vitima e nem presenciei qualquer tipo de preconceito! Declarações anti-armas também são feitas, mas para dar algum tom de verdade à essa besteira, ele usam situações forçadas só pra nos tiram alguma emoção e cair nessa história deles. Em um momento o vendedor de armas chama o homem persa de Osama, como se isso não fosse dar cadeia pra ele.

A única coisa que sobra nessa baboseiras é o elenco, que podia ter sido escalado para um filme muito melhor sendo muito mais proveitoso, até porque o roteiro é tão artificial que qualquer tentativa de realidade da atuação vai por água abaixo. Ver Don Cheadle, Sandra Bullock, Terrence Howard, Matt Dillon e cia. fazendo um filme desse, é uma das coisas mais deprimentes que o ano de 2004 nos proporcionou.

Veredicto: Filme metido à inteligente. Tenta fazer dezenas de análises socio-políticas e no final não acerta uma sequer. Não caia nesse conto de fadas contráditório e manipulador.

Nota:1/5

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